Na minha rua corre um rio
de passos
que perdidos foram
no empedrado dos passeios.
Nos geométricos pedaços,
o desesperado rasto
humano…
Sangue em redondo pingar.
Grito vermelho,
de desconhecido sofrimento.
Definha uma flor de tão esquecida
no branco sólido do caminho.
Lamento lilás de uma morte inevitável.
Embriagado vómito,
azeda existência despejada
em agonia avinhada.
Vida escarrada
desprezo, revolta
às entranhas arrancada.
E até o mais fiel dos amigos
deixou marca
num redondo alivio passeado.
Narração presente nas pedras
da calçada, breves marcas vividas
que o tempo, sôfrego, vai esbatendo,
em instantes desabitados.
António Patrício