Sou composto de recantos,
escaninhos, alçapões,
onde perdidos vão ficando
involuntários pedaços
de um tempo incerto
que transporto nos bolsos
da vida com que agasalho
o corpo magro.
Vou balouçando a cadeira…
Por vezes tropeço nos dias
constantes,
tão plenamente
povoados de alegres
tristezas que me tolhem
a língua pesada das palavras
que vou guardando
a plenos enganos.
Mantenho o morno balanço…
Deixei que a chuva, o vento
apagassem as alinhavadas
vontades.
Revejo trajectos
que jamais irei viajar.
Fecho-me num labirinto
de paredes transparentes
que me tolhem o pensar.
Finco os pés no soalho;
parou o balouçar da cadeira
agora abandonada…
Assomo à janela ainda a tempo
de ver uma réstia de luz.
António Patrício