Também gostaria de gritar
a plena voz a marcha dos dias.
Não me interessa a quem
ou a que vento atiro o lamento.
Gritar, tão só!
Deixar livre a voz.
Abrir irregular buraco
na pesada solidão,
rasgar muros de indiferença.
Fazer do espanto
o outro lado da inquietação.
Hesito o grito;
Adio a vontade.
Fecho o que nunca aberto esteve,
perco a escolha,
refugio-me na obscuridade…
Vou cerrando, aos poucos,
os lábios e a consciência,
vagueio pelos corredores
deste labirinto de espelhos
estilhaçados pelo silêncio.
António Patrício