É em frente ao Tejo
que espreito o desumano mar.
De olhos inquietos sonho terras,
outras margens.
Devolvo movimentos ondulados
ao rio em cansados gestos
que vou alimentando ao ritmo
das sujas águas.
Adivinho o voar das gaivotas,
o pendular vai e vem dos cacilheiros;
queria eu adivinhar que rumos levar
neste quotidiano.
Negro como breu, grande como muralha
fere os horizontes que não me deixa ver,
segue determinado o navio
o trajecto do poente.
Deito costas às margens cansadas,
parto amarras e mergulho no bulício
da cidade,
dissolvo-me no fumo das castanhas
assadas em pregões roucos.
António Patrício