Que sabes tu da solidão
daqueles que vagueiam espaços povoados…
tão povoados de crus fantasmas vivos.
Que sabes tu daqueles que levam na garganta,
a estalar; tristezas e assombros da miséria;
sabor a sangue e lama?
Quem lhes esculpiu a sombra que trazem no olhar…
Sabes tu quem foi?
Acaso entendes as palavras mortas que ficaram por dizer
na garganta dos que vivem com a noite nos olhos
em pleno dia?
Quantas vezes olhaste sem ver uma mão que te é estendida
sem idade nem futuro?
Alguma vez viste o lento escoar da fome por entre os dedos
dos que vão apodrecendo com a tua indiferença?
Alguma vez deste conta da tua covarde solidão
povoada de vergonha?
António Patrício