Poeta eu?
puro engano!
Parece que é o que não é
a escrita que vou alinhando
em dias assim
páginas começadas e nunca acabadas
Foge a letra da ideia
foge a verdade do pensamento.
Até as palavras mais simples
são trabalhos de força
transpirada
Vou juntando aqui e ali
amores meus
saudades tão grandes
misérias, as dos outros
(das minhas vou fugindo, num esforço vão)
realidades dolorosas
sonhos sonhados e nunca encontrados
alegrias em tristeza sentidas
vidas, por vezes, mortas…
corpos imaginados em palavras toscas
mares oceanos rasgados
onde é grande deserto
Vou desenrolando
em palavras vulgares
num querer teimoso
as vozes que em mim trago,
sem arte ou engenho.
Poeta eu?
António Patrício