Escrevo como quem escava
terras de pedra e urze.
Esfacelo os dedos na violência angular das palavras;
Aconchego a dor à palma das minhas pálidas mãos.
Com o vagar dos dias semeio vontades descarnadas
na esperança de colher as frases que a terra dá.
Inspiro o cheiro antigo dos verbos,
morada de acolhimento para assazonadas caligrafias.
Floração tardia da memória;
Outras sementeiras de que só já vou recordando
o sabor amargo da seiva bruta que lhes dava forma.
Entre paredes brancas
espero o amadurecimento solene dos lugares escritos;
Pacíficas rugas de serenidade
que sobre a face me vão marcando o tempo…
No branco possível, brotam inteiros os frutos da palavra
que se estenderam para lá dos alicerces do meu corpo.
António Patrício Pereira