Apetece-me estar calado.
Fechado sobre o eu que sou,
homem meu igual.
Ficar!
Sem lamentar o abandono;
alheio à rotação da terra e da vida…
Esperar!
Sem saber o quê.
Deixar a corrente passar
sem um gesto esboçar.
Fazer da quietude reino sem rei.
Olhar o que se vê
sem ver o que se olha.
Esquecer o momento
e a circunstância.
Do tempo perder a noção
em toadas dolentes.
Não desejar amorosas palavras.
À vontade por barreiras
engalanadas com murchas flores…
E estar;
simplesmente estar
envolto no pensar,
tela abstrata a cinza riscada.
António Patrício