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Há um sopro negro como o fim do tempo
nas asas que riscam o azul leve
da existência;
Acompanham a brisa que se vai escoando
na retina dos que olhando vêem
o voo dos dias.
A vida corre ao ritmo das estações,
onde tudo vive para morrer e ressuscitar mais adiante.

Nos arrabaldes de si mesmo o Homem vai renascendo,
em carne e sangue moldado;
É de utopia feito o seu querer.
Morre…
Morremos de pedra e água,
clandestinos no remorso do tempo não vivido.
Na pele levamos aquilo que nos rasgou o corpo cru,
no peito guardamos o que nos faz exactos seres.

Somos o insulto do passado,
somos a palavra do presente e o pedaço de futuro
que será mais adiante
Depois das mortes do corpo
resta-nos o ressuscitar num tempo geométrico
onde tudo começa e acaba no mesmo olhar…
Todos nascemos nus num perfeito grito,
todos morremos envoltos na mortalha do silêncio.
Em solidão.

António Patrício Pereira

fotografia / Jean-François Dupuis (Canadá)