O tempo,
esse presente sempre adiado em nós,
foge-nos neste mar que nos toma as veias.
Vamos até ao fim
riscando,
de mãos trémulas,
geométricos momentos,
imitação de gente;
Ternos enganos que levamos
costurados num sorriso acre,
máscara de um corpo exausto.
Na palidez dos dias arrastamos os sonhos;
raízes dentro da terra
que nos vão segurando à vida.
Bebemos os dias
em cálices de vidro tosco;
Oxigénio de misericordiosas mentiras,
acto involuntário de sobrevivência que,
colado à epiderme,
portamos…
até se calar a voz e os olhos serem líquido
mar.
Invejamos a força das marés,
e, num murmúrio frágil
que nos escorre pelos lábios como sal em chaga aberta,
rogamos a um qualquer deus
a recompensa piedosa de morrer e voltar.
António Patrício Pereira