Se a dor
gritasse garganta fora
o ácido
de que é feita…
Se pudesse ser escarrada
na sarjeta
como um pedaço de vida amargo
que nos azedou a boca.
Se a dor sangrasse
de punhal trespassada e morresse
calando as noites espessas
que nos pesam nos ossos
como gélidos cadáveres
e nos deixasse sozinhos
no sossego quente do
sangue que nos alimenta a carne.
Se, ao menos, pudéssemos
escolher a dor
para nos amortalhar o peito…
António Patrício Pereira