E o mar? Porque nos esquecemos do mar
agora que os nossos corpos vão ficando
perdidos na idade
que a pele transporta
nas rugas que nos envelhecem o tempo
E o vento? Que nos diz o vento
que já não o entendemos no vocabulário dos dias
onde nos perdemos
mudos sem verbo nem palavra
nesta finitude dos sonhos
Que sabemos nós da luz, agora;
Nestas madrugadas que teimam em ser noite
nos nossos ossos doridos
e onde vagarosamente
se vai instalando a solidão dos velhos
Que sei eu?
Já o gesto é lento
e as caricias na tua face são trémulos
fogos da memória presos dentro dos nossos olhos
onde sôfregos ainda bebemos
e riso agitado das ondas que um dia foram sangue em nós
Agora ergo-me da tua ausência,
já não preciso de mim
cansado do sal que me seca o corpo;
cansado desta morte indiferente que não vem…
Procuro-te no sono marítimo das roseiras,
feridas escancaradas da minha saudade…
… vou regar as tuas mãos perfumadas.
António Patrício
(a Gracinda Rosa Marques, uma mulher sábia e doce… minha avó)