Andava num virote, feliz como tentilhão de asa livre.
A expectativa roía-lhe as unhas…
Arrumou as ideias, escondeu os desgostos
e até deitou fora uma ou duas dores mais gastas do uso.
(depois arranjaria outras novas)
Deu um jeito ao quarto das memórias e limpou
com afinco o coração, arejou a alma.
Depois, para acalmar, foi para a janela ver o tempo passar devagar;
devagar, devagar…
Foi uma vizinha, de aspecto grave que passava pela rua, atarefada,
que lhe deu a notícia.
“Já chegou faz três dias quando o Sol se levantar amanhã pela manhã”.
Ficou mudo, quase, quase a morrer de indignação magoada.
Tinha ela chegado, como fazia todos os anos, e não lhe dera
um sinal nem anunciara por postal?
Envolveu as costas em pensamentos desalinhados
e foi para o quintal… Foi então que deu com ela
deslumbrante de verde mar a brilhar.
Lá estava a Primavera num canteiro de margaridas a florir…
Rasgou um sorriso no rosto barbeado; teria companhia para o jantar!…
Sem sinal
22 Domingo Mar 2015
Posted 2015
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