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casa, casa vazia, dias, memória, monólogo incessante, revejo, vida
No meio desta casa vazia
viajo tempos que a memória me dita;
Desfilar de imagens onde me revejo,
onde te revejo.
Lembras-te da estante onde os livros
aguardavam o pó dos dias?
Umas quantas tábuas empilhadas
sobre terra cozida.
Quantas tábuas? Quantos tijolos?
Não me lembro!… Como não me lembro
de tanta existência que gostaria de ter fixado.
Só sombras vagas restam.
Vão-me sobrando os dias,
vai-me sobrando a vida…
Só tu a esgotaste, sôfrego
sem tempo…
E eu aqui vou ficando neste monólogo incessante,
caminho imperceptível das palavras.
Os livros ainda cá estão à tua espera.
António Patrício