Vejo o tempo passar como um cego,
sem ver.
Quase consigo tocar-lhe,
sentir-lhe o relevo dos minutos…
Um de cada vez…
Espero!
À minha volta há uma sujidade luminosa
com gente dentro.
Rostos talhados na urgência
branda do momento;
Também eles esperam.
Mergulho numa letargia imensa,
só quebrada por uma
qualquer cor forte.
Rasgão berrante no fundo pardo do meu dia.
Que pêsames me tolhem o pensar?
Não sei!
Sei que respiro lentamente,
sinto nas veias o latejar corrido do sangue…
Oiço,
toldadas pelo meu alheamento,
as vozes dos que como eu esperam.
Que diabo estão eles a dizer?…
António Patrício