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Habito esta casa, que sou, à meio século.
Não é muito nem pouco tempo
é o tempo que ela tem.
Como todas as casas exibe na fachada
e no interior as dedadas dos dias.
Não é muito grande a minha casa,
mas tenho-a como a medida certa.
Por vezes há festas de arromba, pois claro!
Que quando se festeja deve ser em grande.
Outras lá rebenta o coração da instalação;
Contingencias do material…
E esse acaba por ter sempre razão.
Meia dúzia de assoalhadas que vou querendo bem arejadas.
Por vezes não sei por onde largo as palavras,
e outras coisas que já não lembro;
esqueço o canto onde as pousei…

Do que mais gosto é das águas-furtadas
Por lá tenho escritório
mais o arquivo das memórias;
São pastas e pastas alinhadas,
todas identificadas…
Para não esquecer o futuro.
Mas o que me enche os sentidos são as amplas janelas
por onde vejo o longe, adivinho o perto
e olho os homens em toda a sua fragilidade.
Sei que um dia vou ter de mudar,
deixar esta casa que sou…
Ao longo dos anos vi nascer
outras casas que ajudei a construir,
o bairro foi crescendo…
Mas por agora sinto-me bem aqui
no conforto do meu espaço!

António Patrício

Espaço imobiliário

Fotografia de Mark Sadier (Reino Unido)