Os dias prolongavam-se até ao fim das horas;
Retiravam-se de mansinho estafados de tanta luz
à anunciada chegada da noite.
No meus olhos ficava o dourado crepúsculo da várzea
e a voz esquecida dos homens no chão seco que pisavam;
Os pássaros inquietos sulcavam os céus.
Ficava toda a vida estática, por breves momentos,
nas sombras pardacentas dos montes.
Recolhiam os humanos corações o eco da tarde
e os corpos transpirados a seiva da terra bruta.
O rio esquecido, alheio ao passar do tempo,
continuava, manso, a desenrolar o seu destino
levando o vento e o perfume a maçãs verdes
no espelho das águas.
Na quietude do momento tudo ficava suspenso;
Até os cães sustinham o latido às estrelas
para não quebrar o recolhimento da natureza.
Só o silvo estridente do comboio rasgava o silêncio
e sobressaltava a alma dos homens…
Agora caía a noite e os cães voltavam a ladrar às estrelas.
António Patrício