Na boca fica sempre o sabor amargo
das palavras que não foram ditas.
Em ti abandono esperanças
debruçado na contemplação muda
dos momentos preenchidos com um vazio
tão cheio do que fomos.
Vou apagando a escrita e as horas do que passou.
Vou desmontando as pontes de entendimento;
Ficam sós as margens que somos…
Restam os corpos sem tempo
que plácidos se entregam à sombra
das memórias gravadas na pele.
E agora que a tua margem se afasta
na distância dos sentidos,
continuo a escrever nesta tentativa
ridícula de fugir à solidão…
Pernoito este corpo áspero
com a certeza de não querer a eternidade.
António Patrício