Invento o teu corpo em cada sopro da tarde,
nos mistérios das marés adiadas,
no silêncio reconheço-te;
vastos campos maduros
que alimentam o meu nome.
Por ti morro em teias de poesia que escrevo.
Durante os dias de sombras povoados
descubro-te ao virar das páginas
em cada livro que leio.
Vou recriando o teu movimento
vezes sem conta até ter a certeza de mim,
chego a acreditar na miragem do teu rosto;
reflexo líquido que a luz encerra.
Amo-te nas descarnadas palavras
que vou deixando no papel por ti.
Invento o teu reconfortante corpo
onde encerro o perdão
dos meus tristes pecados.
António Patrício