Velho de anos
espectro embrulhado
em roupas gastas
que um dia tiveram cor
e hoje de fome tingidas são.
Carrega insanas palavras,
vagueia amarguras vagabundas
na busca por pão.
Do corpo magro
onde a carne é memória,
desprende-se o cheiro fétido da miséria.
Da fria água que dos céus cai
esconde os ossos
que a pele já mal segura.
Cabeça baixa, a força é pouca
e o abandono pesa,
rasga o destino na indiferença
dos que vão passando.
Com passos sem esperança
pisa as traições da vida…
Resignado caminhar.
Lento vai matando a breve distancia
que o separa do fim…
Da silhueta já só lhe vislumbro o fio,
na hora morta em que a penumbra
pelas frinchas gastas
vai estendendo o seu leve manto.
António Patrício