Somos tão grandes nadas
empoleirados numa ilusão
de grandeosidade.
Da beleza de outrora vai o corpo
definhando subjugado ao
tempo incomensurável.
Desmoronados sonhos
que o vento explode,
desfaz em nuvens;
vagarosos conformismos.
Fechamos o voo dos pássaros
em gaiolas de dourada vaidade;
resta-nos o fingimento patético.
Egos inchados em filosofias cuspidas
na emoção fácil de um momento
de apagado brilho,
engano consentido que nos tira,
da frente, por breves momentos,
o espelho onde é reflectida
a nossa embaraçada memória.
Somos nada e tanto querer,
que perdido foi pelas
pedras do caminho.
Resta-nos a carcaça
que nos mantém e à noite
na solidão da verdade
o imperceptível
coração garante-nos
não és nada mais
que pasto para vermes,
pó em vida moldado.
António Patrício