Hoje não vou escrever.
Não posso.
A vontade emigrou,
na bagagem as palavras com ela levou.
Deixou-me à deriva por aqui,
tão vazio sem o que, escrevendo, dizer.
Pesam-me os braços,
as mãos não me obedecem…
E até a inspiração se recusa a aparecer.
Na esperança de um gesto arrebatado
pelas filhas de Mnemosine clamei…
De pouca valia foi.
Soube agora
que na viagem foram também.
Resta-me esta suave dormência
que vou deixando, dolente,
pelo chão cair,
enquanto contemplo o vazio
das luzes na rua tardia.
António Patrício