Absorto
olho o nada que me envolve
dormência dos sentidos.
Tudo é quietude à minha volta.
Mergulho em imagens, uma após outra.
Um cão ladra ao longe.
Percorro rumos, dias.
faço o roteiro da alma, cicatrizes assinaladas.
Ausento-me da cidade,
das gentes.
Na cabeça o ritmo cavo dum violoncelo.
Volta o cão a mostrar ao mundo que existe.
Sangue de um ventre materno,
pobres viajantes num mundo adverso.
Em mim tudo grita silêncios.
Faço da realidade uma ficção
a preto e branco.
O animal deixou de se manifestar.
Quando enfim as luzes se apagam,
movimento estranho do pensar,
adormeço no fragor de uma voz branda
Esqueço o corpo
e vou-me conhecendo um pouco mais.
António Patrício