Tu
que carregas a ilusão
de felicidade nos ombros
que vives regalado
no conforto da tua despreocupação
penhorada
que transportas em ti
o nada que és
Sabes quem sou?
Sabes de onde venho?
Eu digo-te!
Venho do lado
da miséria
venho dos cartões da noite
do catarro fumado
sofrimento vomitado
embriagado
pelas esquinas da cidade
venho do lado da fome
escondida,
envergonhada
trago comigo a voz
dos que foram calados
dos que gritando
tu não ouves
(ou não queres ouvir)
Sou o que te estende a mão
um lamento na voz
a dor nas entranhas
sou a tua vergonha,
envergonhada
sou a tua consciência
atormentada
sou o filho da tua indiferença
sou o que se ri na tua cara
sou aquele que te aponta o dedo…
Sabes quem sou?
Sabes de onde venho?
Eu digo-te!
Queres ouvir?
António Patrício